A ligação de Oxóssi com a alimentação é tão grande que a sua principal comida, o axoxó, é feita de
milho, o grão que melhor simboliza a fartura e a riqueza. E é fato: quem não deseja que a fome adentre
em seu lar pendura na soleira da porta uma espiga de milho com a palha desfiada para evocar a
proteção de Oxóssi e atrair a fartura.
Grãos em quantidade são o maior símbolo da alimentação abundante, da prosperidade e da riqueza,
mas são também sinal da presença de Oxóssi. No Ilê Dara Axé Oxum Eyin toda quinta-feira é dia de
jogar feijão-fradinho torrado no telhado para homenagear Oxóssi. Por isso as casas de Candomblé são
fartas: porque cultuam Oxóssi.
As festas de Oxóssi começam obrigatoriamente com um toque
de alvorada, com foguetório e alegria, seguido de um café da
manhã que é mesmo um banquete: muito bolo, pães, frutas,
aipim e milho cozidos, pamonhas, canjica (ou cural, para os
paulistas), lelê e muita fartura, pois o maior gosto de Oxóssi é
convidar seu povo para comer; ele abre as portas de seu reino
para alimentar sua gente. O maior prazer de Oxóssi é ter para
oferecer.
Também é comum nas festas de Oxóssi o sacrifício de uma
cabeça de boi (malu), que se faz acompanhar de uma outra
comida muito apreciada pelo Orixá: o eran petere, feita com os
miúdos do animal.
Frutas de todas as qualidades nunca faltam nas festas de Oxóssi, que é o rei da fartura, mas não
admite o desperdício. Nada ofende mais este orixá do que comida jogada fora, por isso suas oferendas,
como as dos outros deuses, devem ser compartilhadas. Oxóssi gosta de dividir e sua capacidade de
doar é tanta que por isso tornou-se rei.
A sobrevivência humana depende da alimentação, que ocorre a partir do reconhecimento e domínio do
homem sobre o meio ambiente e sobre as técnicas - mecanismos que, como vimos, acabam se
inserindo no contexto cultural. Não resta dúvida de que o alimento é muito importante em vários
aspectos da cultura. É evidente que cumpre sua função fisiológica, contribuindo para a manutenção
nutricional, mas relaciona-se também com a religião, a magia, a ancestralidade, a arte... O exemplo
clássico deste relacionamento é a caça e, por conseguinte, o caçador.
Quando todos se lembrarem da força de Oxóssi e compreenderem a natureza como fonte de
subsistência, lutando, assim, por sua preservação; quando o homem tiver a preocupação de não abater
uma fêmea prenhe e não derrubar uma árvore que está frutificando; quando as pessoas deixarem de
lado a cultura do desperdício, neste dia a fome estará extirpada do planeta, a humanidade não mais
assistirá atônita e inerte à criança negra sugar os seios flácidos e frios de sua mãe já morta. Que Oxóssi
nos livre dos horrores da fome. Òké Aró!
Crédito Andréia D Iemanjá
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